11 setembro 2008

Coragem, Coragem

O último cigarro foi aceso, mas não para ser fumado, iria queimar sozinho, pelos derradeiros minutos de vida daquele homem. Seu fim estava submerso a uma pequena quantia de gasolina, que se incendiaria e seria o estopim para todos os demais inflamáveis que recheavam aquela pequena sala de escritório...

Esse aparato caseiro foi improvisado havia apenas alguns minutos, para substituir a coragem que faltou no momento de puxar o gatilho da arma que esteve encostada em sua cabeça pelas três horas anteriores...

Não queria admitir, mas tinha medo da morte, ainda que tivesse a plena certeza de ser merecedor deste castigo por todo o mal que causou durante o último mês e por tudo mais que ainda viria a acontecer.

Acendeu o cigarro.

No rádio tocava sua música, a mesma que sempre acompanhou seus momentos de emoção, agora o acompanharia pela eternidade. Torceu para que o sofrimento se findasse antes da música.

Lembrou-se de seus pais e irmãos, sua mulher e os filhos que nunca tiveram, seus amigos que confiaram plenamente naquilo que ele dizia, todos mortos por sua culpa.
Pensou novamente na arma, um ser como ele deveria ser capaz de puxar o gatilho, ainda que fosse para satisfazer a sensação egoísta de agilizar a chegada do fim, já anunciado para dali a pouco.

Não que ele acreditasse em uma vida post mortem, mas se lembrava, a cada momento, o quanto os suicidas são abominados nas mais diversas religiões.

Poderia parar tudo, se entregar à polícia, ser julgado conforme a lei, talvez até mesmo morto, após seu devido processo legal, como forma justa de pena. Seria mais honroso, mais justo com aqueles que já se foram e com aqueles que ficam.

Morrer agora, morrer daqui alguns anos, continuar vivendo com aquele peso nas costas, tudo isso tinha a mesma força em sua mente, naquele instante. E ele tinha que se decidir, logo.

Tomou sua decisão.

Apagou o cigarro com as próprias pontas dos dedos, o que lhe causou dor pela queimadura, mas um alívio por poder ainda estar vivo. Ao mesmo tempo em que constatava não ter coragem nem mesmo para se matar de uma forma simples e indireta, se sentiu aliviado por ainda estar vivo.

Entregar-se-ia pela manhã, poderia alegar que o gás havia sido solto por acidente, que nunca desejou a morte das pessoas que estavam naquele prédio, o que em parte era verdade...

Ligou sua televisão, tentar relaxar...


“Boa Noite. O grupo separatista Armada Independente (AI), acaba de assumir o atentado ao Prédio Amarelo, do último dia 15. Alegam possuir material suficiente para atacar outros 20 prédios ainda este mês caso seus pedidos não sejam atendidos.
O governo ainda não se pronunciou oficialmente sobre estas declarações, mas especialistas acreditam em uma submissão aos pedidos terroristas”.


Mais esta agora, rebeldes se aproveitando da inanição do real autor do infortúnio para fazerem sua propaganda de guerra.
Não sabia se chorava de tristeza ou de alegria por não estar mais vinculado à obrigação de se pronunciar perante as autoridades.
Novamente não sabia o que fazer, amanhã decidirá...