16 setembro 2005

Reciclagem

Zé Geraldo - Reciclagem

“Saí de casa muito cedo
Os trapos na minha sacola
Camisa bordada no bolso
Na mão direita a viola
Principiava o mês de junho
O céu cinzento anunciava o inverno
O peito vazio de tudo
e a mala cheia de amor materno

Meu companheiro
que sai de casa e na vida cai
Com as cacetadas destes anos todos
eu fiquei mais velho que meu velho pai

Os jardins da casa grande
As trancas ficando pra trás
Hoje, depois de algum tempo
eu sei que ficou muito mais
Ficou um sentido de vida
Uma filosofia, uma razão de ser
que a idade impediu de ser vista
e que hoje é a própria razão de viver

Meu companheiro
que sai de casa e na vida cai
Com as cacetadas destes anos todos
eu fiquei mais velho que meu velho pai

A moda na cidade é grande
O medo que é grande também
A corrida do cheque encoberto
O saldo não teve e não tem
Os valores trazidos da terra
enfrentando as cancelas do pode-não-pode
A força falsa de um cartão de crédito
ao invés de um fio de bigode

Meu companheiro
que sai de casa e na vida cai
Com as cacetadas destes anos todos
eu fiquei mais velho que meu velho pai”

Eu queria escrever este texto desde o momento em que passei por um momento semelhante ao citado pelo início da música, o sair de casa muito cedo. Já conhecia ela antes e embora eu ainda não tenha passado “estes anos todos” fora suficiente para me ver mais velho que meu velho pai como o Zé falou em sua música, sei que este dia chegará. Foi realmente uma música que vestiu com um momento de minha vida, algo que a torna parte de mim de certa forma. Não existe mais a possibilidade de escutá-la e não lembrar daqueles dias de mudança.
Posso dizer que uma das primeiras conclusões que chegamos quando se está fora é aquilo que está dito na estrofe após o refrão: só percebemos depois tudo aquilo que deixamos pra trás...
É estranho até mesmo voltar para a antiga morada, porque você sente que não pertence mais àquele lugar nem ele te pertence mais, ou senão você sente a falta da nova morada.
Lembro uma vez que conversava com uma amiga sobre essa sensação de sempre estar faltando algo, de ser incompleto e ela bem respondeu: “E alguma vez você já havia se sentido completo antes?”. Não precisei pensar muito para concluir que antes embora incompleto isso nunca havia afetado meus objetivos, pelo contrário, me auxiliou muito a sempre querer lutar por mais, por atingir algum lugar mais longe. E novamente a sensação de ser incompleto deixou de me afligir.
O assunto mudança ainda renderá muitos outras reflexões, esta inicial deixo a todos apenas para apresentar esta, que é uma bela canção legitimamente brasileira e que para mim foi importante...


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